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Artigo do educador Vinicius Lins. Tema da live do dia 03/11

Artigo do educador Vinicius Lins. Tema da live do dia 03/11 São Paulo da Cruz

Confira o artigo do educador Vinicius Lins sobre o papel da poesia no contexto de pandemia, tema da live do dia 03/11 com Everaldo Garcia, disponível em nossa página do Instagram @passiospdacruz

 

POESIA E PANDEMIA

         Segundo a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, o ano de 2020 entrará para a história da humanidade por comportar o evento que inaugurou o século XXI: a pandemia da Covid-19. A alta taxa de contágio da enfermidade levou as autoridades sanitárias do mundo inteiro a adotarem diversas medidas preventivas, entre elas, o isolamento social, com ou sem lockdown. Escolas foram fechadas por tempo indeterminado, espaços de convívio e lazer passaram a funcionar de forma diferente, e o dia a dia das pessoas ganhou o que a mídia convencionou chamar de “um novo normal”. Uma vez trancados em casa, nós nos afastamos dos outros e nos aproximamos de nós mesmos, o que, não raramente, levou a quadros de ansiedade, angústia e depressão, como aponta uma pesquisa realizada pela “ConVid Comportamentos” em parceria com a Fiocruz e a UFMG. Para se ter uma ideia, do total de entrevistados, 40,4% alegaram ter desenvolvido sentimentos de depressão e tristeza, enquanto que para 52,6% deles, o nervosismo e a ansiedade tornaram-se mais constantes.

         Nesse contexto, a arte, em suas diversas expressões, desempenhou importante papel de intermediar este diálogo íntimo, tornando-se fundamental para suportar uma realidade subitamente proibitiva. Afinal, descobrimos que é possível ficar um tempo sem ir à academia, que o passeio ao shopping pode esperar, mas sem a música, a literatura, o cinema e tantas outras manifestações artísticas, a solidão seria um fardo muito mais difícil de carregar.

         Entretanto, pensar a poesia como um bem essencial, quando diversas famílias enfrentam o desemprego, a fome e outros efeitos agravados pela crise sanitária parece uma atitude elitista, principalmente quando alguns incautos a relegam a um campo hermético, de difícil acesso, para poucos. A raiz desse preconceito está na própria dificuldade em remontar sua gênese, definir seus parâmetros e compreender seus significados. Isso porque o fazer poético atravessou incontáveis mudanças desde seus primeiros registros, datados da Antiguidade, quando era transmitida oralmente, com acompanhamento musical, até os versos do pós-modernismo.

 

Um caminho para a poesia

         A discussão em torno de uma definição de poesia é extensa, atravessando processos contínuos de tradição ou ruptura, ou, como eu gosto de dizer, um sobe e desce do Olimpo. Um dos mais relevantes estudos que a toma como objeto de análise está presente em “A Poética”, de Aristóteles, que propõe uma criteriosa análise tanto dos elementos que a compõem, quanto das qualidades fundamentais que a boa poesia deve apresentar. Ela nasce de um contexto histórico grego, onde o efeito estético e artístico já era pensado entre pitagóricos, que partiam da visão da realidade pautada – vejam só, na matemática! A beleza, nesse sentido, era a expressão de um bom arranjo matemático e harmonia das proporções, que trazia benefícios ao corpo, principalmente através da música. Esse efeito purificador da arte poética, por sinal, é um dos mais remontados na contemporaneidade. Já de Platão vem a ideia, ainda muito difundida, de inspiração divina em contraste à técnica apregoada pelos sofistas. E esses são apenas alguns traços de ancestralidade dos sapos-poetas do famoso poema de Manuel Bandeira, entre os quais destacam-se o tanoeiro, representante do poeta parnasiano, com seus versos talhados como lavor de joalheiro; e o pobre cururu, o poeta modernista, aspirando liberdade.

         Em resumo, seja uma “profissão de fé” bilaquiana ou um “catar feijão” cabralino, o ato de poetizar está longe de encontrar um estatuto definitivo. Ainda que nos manuais escolares encontremos regras de versificação, metrificação e rimas para considerar este, e não aquele, texto como um poema, o fato é que a poesia insiste em perpassar o nosso cotidiano no que ele tem de mais banal, corriqueiro e único, bem como na nossa necessidade de representação para fins de compreensão.

         E quanto da nossa rotina atual não está prescrito nas ideias íntimas de Álvares de Azevedo, para quem o quarto transformou-se tanto em cárcere quanto santuário? Quantas vezes não ficamos tão sem novidades em nossa quarentena quanto Carlos Drummond de Andrade em uma cidadezinha qualquer, a ponto de exclamarmos, como ele: “Eta vida besta, meu Deus”? Os tempos calamitosos sobre os quais versava Nicanor Parra no poema “Tempos Modernos” são outros que não os nossos? Fato é que, do sorriso de uma criança à dor de um adeus, nada escapa à poesia, tida como “um acontecimento humano que você pode encontrar em qualquer parte, a qualquer hora, surpreendentemente", nas palavras do poeta mexicano Jaime Sabines.

 

Escrevo, logo, resisto

         Carolina Maria de Jesus, em determinada passagem da obra “Quarto de Despejo”, diário em que registra o seu duro cotidiano na antiga favela do Canindé, em São Paulo, diz: “Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: faz de conta que eu estou sonhando.” Transcrever seus hábitos sob a égide da fabulação, mesmo ancorada em um discurso realista, foi a forma como ela encontrou de sobreviver a um ambiente em que a realidade era opressiva demais, afinal de contas, como apregoa o poeta espanhol Luis García Montero: "A poesia é um ajuste de contas com a realidade.” De acordo, ainda, com Antonio Candido, um dos maiores críticos literários do Brasil, o ato de fabular, tal qual o de sonhar, acompanha todas as pessoas em alguns momentos do dia, estando “presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito, como anedota, causo, história em quadrinhos, noticiário policial, canção popular, moda de viola ou samba carnavalesco.” Deste modo, a literatura (e a poesia enquanto manifestação máxima da linguagem humana), “parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita, e cuja satisfação constitui um direito.” Logo, consumir poesia implica no exercício de nossa própria humanidade, e prover condições tanto para sua produção quanto difusão deveria ser encarado como um dever do Estado.

         Ademais, tomando como ponto de partida a afirmação de Clarice Lispector de que estava morta quando não escrevia, proferida em sua antológica entrevista concedida à tevê Cultura em 1977, podemos ter uma dimensão da importância desse ato para a mente do escritor. E engana-se quem pensa que os benefícios estão reservados aos grandes autores da Literatura. Um estudo conduzido pela Academy of Managemente com engenheiros desempregados mostrou que aqueles que escreviam sobre as dores do seu fracasso conseguiram se recolocar no mercado de trabalho mais rapidamente, além de livrá-los do ressentimento em relação ao antigo chefe e fazê-los diminuir o consumo de bebida alcóolica – que aumentou 17,6% entre quem já tinha o hábito de beber durante a pandemia, como mostra a pesquisa “ConVid Comportamentos”.

 

“Mas eu não sou poeta!”

         Os professores de língua portuguesa conhecem bem a resistência com que os alunos, muitas vezes, costumam encarar a produção lírica, diferente de outros gêneros. Está cada vez mais difícil formar poetas atualmente, seja pela opressiva cobrança dos vestibulares, seja pelo pouco contato dos jovens com a poesia fora do ambiente escolar. O que poucos desses aspirantes sabem é que essa definição tem sido cada vez menos difundida até mesmo entre os próprios poetas, como pontuou Wislawa Szymborska em seu discurso na Academia Sueca, na ocasião de sua premiação com o prêmio Nobel de Literatura, em 1996: “Os poetas contemporâneos são céticos e desconfiados até, ou talvez sobretudo, de si mesmos. Só com relutância confessam publicamente serem poetas, como se tivessem um pouco de vergonha.” Progressivamente, a alcunha de poeta cede espaço a de “escritor”, aumentando mais ainda a mística em torno da poesia, terreno onde o autor, e apenas ele, parece saber alguma coisa.

         Todavia, como nos alerta a poetisa, escrever passa justamente pelo contrário, pelo campo do não saber. “Poetas, se autênticos, também devem repetir “não sei”. Todo poema assinala um esforço para responder a essa afirmação, mas assim que a frase final cai no papel, o poeta começa a hesitar, a se dar conta de que essa resposta particular era puro artifício, absolutamente inadequada. Portanto, os poetas continuam a tentar e, mais cedo ou mais tarde, os resultados da sua insatisfação consigo mesmos são reunidos, e presos num clipe gigante pelos historiadores da literatura, e passam a ser chamados de suas obras.” - diz ela.

         Portanto, não sendo exclusiva de um saber único e inquestionável, a poesia está à disposição de cada um de nós e de nossas inquietações, e por meio dela, empreendemos não apenas um exercício de autoconhecimento, mas também um esforço para nos juntar aos outros. Essa duplicidade entre solidão e partilha é o cerne da obra do escritor americano Chuck Palahniuk, para quem seus livros nada mais são do que histórias sobre pessoas tentando estar juntas, mais do que por mera proximidade. Por isso o hábito da leitura é tão importante durante os anos escolares, porque neles temos a garantia de que haverá uma oportunidade para compartilhá-la com um grupo.

         Poetizar é elevar a linguagem, o bem mais precioso da humanidade, ao mais alto patamar possível; é encontrar respostas onde apenas cabem perguntas, é erguer morada aos nossos silêncios quando calamos aquilo que sentimos - e como sentimos! Sendo assim, não se assuste nem se melindre se hoje ela não fizer sentido para você, até porque, a vida também não faz, e nem por isso nós deixamos de vivê-la intensamente. E em um mundo de portas fechadas e máscaras no rosto, cada página aberta de um livro é uma janela que traz uma lufada de ar fresco carregado de esperança por dias melhores.

        


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